28.3.07

7o CONFER NCIA INTERNACIONAL DO DOCUMENT RIO ETICA E DOCUMENT RIO

Apresentacao

A setima edicao desta Conferencia enfrenta uma questao crescentemente reconhecida como central para o documentario hoje: sua relacao com a etica. No ultimo Visible Evidence, Michael Renov sustentou nao haver tema mais urgente. Em palestra recente, Joao Moreira Salles argumentou que o especifico do documentario se encontra no terreno da etica.

Marina Goldovskaya, em seu estupendo livro de memorias, lembrou como este debate foi acelerado com a chegada das cameras 16mm e agora pelo digital. A mestre russa, que tem seu mais novo filme (Anatoly Rybakov) exibido como "hors concours" no E Tudo Verdade, foi direto ao ponto: "Etica e etica pois nao e regulada por lei; e uma questao de consciencia. Consciencia e muito pessoal e cada de um de nos determina o que e aceitavel. Assim, a questao da etica no documentario e muito mais importante do que no cinema de ficcao, no qual lidamos com modelos de todos os tipos de comportamento humano. Em documentarios temos reais situacoes, nao modelos. Isso aumenta a responsabilidade do cineasta e as demandas sobre suas qualidades humanas".

Nao se esperam das discussoes deste simposio respostas prontas ou formulas a mao. O essencial e ouvir as questoes que tornam a etica uma preocupacao crucial para a producao e o estudo do documentario hoje. Nossa modesta pretensao e continuar o debate, sabendo ser impossivel esgota-lo em algumas poucas mesas, mesmo formadas por artistas e pensadores do calibre dos aqui reunidos.

Questoes filosoficas e casos concretos serao abordados. Uma selecao de documentarios busca complementar os debates. Uma novidade desta edicao e o convite para um dialogo de encerramento, conduzido por Ismail Xavier com Jorge Bodanzky, homenageado por uma retrospectiva pelo festival do ano passado.

Sejam todos bem vindos!

Amir Labaki e Maria Dora G. Mourao

PROGRAMACAO

Sao Paulo, Instituto Itau Cultural
de 28 a 30 de marco de 2007

Os interessados em participar dos debates devem fazer a inscricao com 1 hora de antecedencia a realizacao de cada mesa.

28/03 - 10h
Mesa 1 - Aspectos filosoficos

O modo de producao documental estabelece fronteiras por demais tenues entre a realidade e o universo filmico, ou seja, entre o registro e a cena recriada pela camera. E nesse sentido que e exercido um poder do discurso sobre os personagens envolvidos no documentario, criando tanto a necessidade como a fragilidade de um contrato entre documentarista e documentado. Relacao que se estende desde o ato de filmar ate a montagem, momento em que as imagens e sons sao manipulados podendo criar novos sentidos ao sugerir novas relacoes e significados. Assim, a questao da etica esta presente em todas as etapas da realizacao documental, e permeia o pensamento critico do genero desde os seus primordios.

Kees Bakker, Diretor de Projetos da Cinematheque Euro-regionale do Institut Jean Vigo em Perpignan, Franca. De 1994 a 2001 foi coordenador da European Foundation Joris Ivens. E especialista em historia e teoria do documentario e televisao, tem dado aulas nas Universidades de Nijmegen e de Utrecht e na Dutch Film Academy. E autor do livro The Good, the Bad and the Documentary, entre outras publicacoes.

Cesar Guimaraes, professor do Programa de Pos-Graduacao em Comunicacao Social na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pos-doutorado na Universite Paris VIII. E pesquisador do CNPq e editor da revista Devires - Cinema e Humanidades.

DEBATEDORA: Esther Hamburger, professora de Teoria e Historia do Audiovisual e atual chefe do Departamento de Cinema, Radio e Televisao da ECA-USP. Fez doutorado em Antropologia na University of Chicago. E pesquisadora do Centro de Estudos da Metropole e do CNPq. Critica e ensaista e autora do livro Brasil Antenado: a Sociedade da Novela (2005).


Dia 28/03 - 14h30
Mesa 2 - A etica da filmagem

A partir da analise de diversas experiencias de realizacao recentes, a mesa debatera questoes que envolvem a responsabilidade do documentarista, no instante decisivo da gravacao, frente aos sujeitos que estao sendo filmados. Iremos levantar algumas interrogacoes: de que modo o registro de situacoes ou falas que estao destinadas a tornar-se publicas pode vir a interferir na vida dos seus interlocutores? De que modo, e em que circunstancias, torna-se imperativo, para o cineasta, adotar, durante as gravacoes, procedimentos que irao permitir ao futuro espectador apreender em que condicoes o encontro e o dialogo com as pessoas filmadas se desenvolveu? Tentaremos identificar alguns caminhos possiveis de respostas a estas e outras questoes que dizem respeito ao efetivo exercicio da etica no ato de filmar.Mario Handler, cineasta uruguaio, dirigiu, produziu e montou diversos filmes desde a decada de 1960. Seu mais recente filme e o documentario "Aparte" (2002). E tambem professor da Universidade do Uruguai e da Universidade Central da Venezuela. Marcius Freire, professor do Depto. de Cinema no Instituto de Artes da Unicamp, e doutorado pela Universite Paris X, onde teve como orientador Jean Rouch, e pos-doutorado na New York University. Concentra seus estudos nas relacoes entre cinema e ciencias humanas, especialmente documentario, antropologia e historia.

DEBATEDOR: Henri Gervaiseau, professor de documentario do Depto. de Cinema, Radio e Televisao da ECA-USP e coordenador do Centro de Estudos da Metropole / Audiovisual. E doutor em Comunicacao e Cultura pela Escola de Comunicacao da Universidade de Paris VII. Dirigiu, entre outros, Tem que Ser Bahiano? (1994) e Em Transito (2005). Realiza no momento o documentario Moro na Tiradentes, em parceria com Claudia Mesquita.

Dia 29/03 - 10h
Mesa 3 - A etica da montagem: memoria e historia

Os projetos envolvidos na realizacao de um documentario traduzem diferentes compromissos eticos do cineasta com o seu objeto. A dimensao moral que preside o olhar do documentarista na captacao de suas imagens tem sua extensao no trabalho de edicao do material obtido durante as filmagens. Preservar no resultado final de um filme a memoria individual trazida pelos testemunhos e a representacao que de si fazem os depoentes constitui o esforco do documentarista na preservacao do referido compromisso. No caso das obras de reconstituicao que privilegiam os materiais de arquivo o trabalho apresenta o mesmo nivel de complexidade, pois existe a impressao de que o passado la se manifesta, sendo o arranjo proposto pelo discurso filmico a demonstracao de evidencias historicas.

Christian Delage, realizador, escritor, historiador e professor da Universite Paris VIII e da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales - Paris. Publicou os livros L'Historien et le film (Gallimard, 2004) em co-autoria com Vincent Guigueno, e La Verite par l'image: De Nuremburg au process Milosevic (2006). E diretor de varios documentarios incluindo Nuremberg: The Nazis Face Their Crimes (2006).

Jay Rosenblatt, documentarista e professor de producao audiovisual na Stanford University, California. Seus filmes possuem mais de cem premiacoes pelo mundo, entre eles, Phantom Limb (2005) premiado no Festival Internacional do Documentario de Amsterda e Human Remains (1998) premiado no Festival de Sundance.

DEBATEDOR: Eduardo Morettin, professor de Historia do Audiovisual do Depto. de Cinema, Radio e TV da Escola de Comunicacoes e Artes da Universidade de Sao Paulo, e pesquisador de historia do cinema e organizador de "Historia, Cinema e Televisao" (Alameda, 2007)

Dia 30/03 - manha - 10h
MESA 4 - Dialogo entre Jorge Bodanzky e Ismail Xavier

A assimetria de poderes que marca o dialogo dos cineastas com os seus interlocutores - entrevistados de ocasiao ou protagonistas da cena focalizada pela camera - e um fator que, mais de uma vez, foi motivo de observacoes criticas empenhadas em apagar qualquer ilusao a respeito do cinema como registro inocente. Decorre dai um aspecto central do debate sobre a etica do documentario, questao do controle e da tecnica que diferentes cineastas tem procurado enfrentar de modo explicito, fazendo de seu proprio estilo uma figuracao provocativa do que se poderia tomar como exercicio de uma dominacao indesejavel dirigida a performance ou a experiencia do Outro. Filmes como Iracema, O terceiro milenio e Serras da desordem se confrontam com situacoes-limite e nos dao exemplos distintos de como montar um laboratorio para pensar tais relacoes de poder.

Jorge Bodanzky, realizador, fotografo, produtor e roteirista. Diretor, entre outros, de Iracema, uma Transa Amazonica (1974) co-dirigido com Orlando Senna, Terceiro Milenio (1980) co-dirigido com Wolf Gauer, A Proposito de Tristes Tropicos (1990), Navegar Amazonia - uma viagem com Jorge Mautner (2006) co-dirigido com Evaldo Mocarzel. Trabalhou como cinegrafista para a TV alema rodando documentarios sobre questoes sociais. Desenvolve o projeto Navegar Amazonia de inclusao digital das comunidades ribeirinhas do Rio Amazonas.

Ismail Xavier, professor de teoria e historia do cinema e audiovisual do Depto. de Cinema, Radio e TV da ECA-USP. E autor de diversos livros entre eles Allegories of underdevelopment: aesthetics and politics in brazilian modern cinema (1997-Univ. Minnesota Press), O Cinema Brasileiro Moderno (2001), O Olhar e a Cena (2003), O Discurso Cinematografico - 3o edicao (2005). Foi professor visitante na New York University, na University of Yowa e na Universite Paris III - Sorbonne Nouvelle.

Dia 30/03 - 14h30
Mesa 5 - Filmando o conflito Palestino-Israelense

O conflito Palestino-Israelense vem encontrando no cinema documentario via de expressao alternativa ao sensacionalismo das coberturas jornalisticas. Cineastas de origem palestina, israelense e ate brasileira enfrentam o desafio de dar forma audiovisual ao conflito que cotidianamente fornece imagens de explosoes literais que saturam a TV de todo dia - ao menos no hemisferio ocidental. Seus filmes se diferenciam porque expressam visoes a um so tempo engajadas e polemicas. Essa mesa discute os paradoxos dessa conjuncao em torno de questoes como: O conflito palestino israelense tem inspirado um enorme numero de documentarios, esses filmes tem feito diferenca? Como delimitar o que e e o que nao e etico quando se lida com situacoes de conflito extremado? Seria possivel pensar que procedimentos que uns consideram eticos sao questionados por outros?

Azza El-Hassan, documentarista independente graduada em Estudos de Cinema e Televisao e em Sociologia na Glasgow University com pos-graduacao em Documentario Televisivo na University of London. Seu trabalho tem sido produzido e exibido por diversas redes internacionais de televisao como BBC, YLE and ARD. Dirigiu, entre outros, o documentario Reis e Extras. A Caca de uma Imagem Palestina (2004) e "Always, Look Them in the Eyes" (2007).

Eyal Sivan, documentarista, fotografo e escritor. Produziu e dirigiu diversos documentarios premiados internacionalmente, como os filmes Route 181 - Fragmentos de Uma Viagem na Palestina-Israel (2004), em parceria com Michel Khleifi, e Um Especialista (1999), entre outros.

Demetrio Magnoli, sociologo, jornalista, e doutor em Geografia Humana pela Universidade de Sao Paulo. E diretor editorial da publicacao Mundo - Geografia e Politica Internacional, colunista do jornal O Estado de S. Paulo e O Globo e pesquisador do GACINT - Grupo de Analises de Conjuntura Internacional. Autor e co-autor de varios livros nas areas de geografia, conjuntura Internacional e historia Contemporanea, como O Grande Jogo (2006).

DEBATEDORA: Maria Dora Mourao, professora de montagem do Depto. de Cinema, Radio e TV da ECA-USP com pos-doutorado na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales - Paris. E Diretora do CINUSP "Paulo Emilio" e Presidente do FORCINE - Forum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual. E montadora de filmes como "Sao Paulo Sinfonia e Cacofonia" dirigido por Jean Claude Bernardet. Publicou, em co-autoria com Amir Labaki, o livro "O Cinema do Real" uma compilacao de artigos resultantes das Conferencias Internacionais do Documentario.